terça-feira, 29 de novembro de 2011

Ciclo

No baque de um tiro
Ardeu
E no ardor da minha dor
Vibrou
Vibração do teu eco, só tão seu
Remanesceu
essência da tua voz e alma
Ventou
Quando do vento fez-se a calma
Calmou

E aí pronto
O meu gatilho emocional você
Puxou

E no baque de um tiro
Ardeu
...

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A veemência secular à ignorância

No ínterim do caso USP, vi na internet centenas de compartilhamentos de textos opinativos, charges afiadas e imagens de conteúdo sarcástico. A maioria deles preza pelo "questionamento de verdades absolutas" e roga para que o povo não acredite no que é divulgado pela mídia, mas tente entender a fundo o que se passa como alguém que está envolvido na situação. A ironia está no fato de os autores desses textos, das charges e das imagens tão disseminadas ultimamente serem a própria grande mídia.

Em nenhum momento vi um texto – ou que fossem três linhas – escrito por alguém “normal” – ou, para explicar melhor, alguém que não faça parte da turma dos formadores de opinião.

Nada contra o José Nêumanne Pinto ou o Juca Kfouri, mas de que adianta criticar a tal da “mídia”, ou melhor, o conceito dela, se no final sustentamos a própria com “nossas” opiniões? De que adianta martirizar esse monstro abstrato, se, no fim, o consumo que temos dela é o que acaba nos consumindo?

Gosto de pensar que o termo “massa” não existe por acaso, mas quer dizer algo passível de ser moldado por mãos “superiores” ou, de certo ponto de vista, sagradas. E como duvidar do poder sacro da mídia, sabendo que, nem mesmo quando queremos criticá-la, conseguimos nos livrar dela? Hoje, o que vejo é a sua utilização como forma de expressar opinião, e o caso USP é apenas um exemplo.

No fim, não sei de fato se o que ocorre é apenas a preguiça de pensar ou, de certa forma, uma veemência à ignorância, uma vez que é muito mais fácil apertar um botão e dizer “É isto o que penso”. Expor o que te faz pensar isso, por que te faz pensar isso e como te faz pensar isso não teria sentido, já que “isso” já foi lapidado ali por alguém.

Vale deixar claro que não foi minha intenção em nenhum momento expressar opiniões acerca do caso USP especificamente. E nem se quisesse, conseguiria maniqueizar uma questão que vai além de termos politicos, mas atinge âmbitos econômicos, históricos e sociológicos. A quem interessar possa, se for pra opinar, que seja numa conversa que transcenda o agora tão corriqueiro “Você é contra ou a favor da PM no campus?”

Haja preguiça de pensar.

Amor sinestésico

Tudo se mistura em sensações. Sem saber o que é cheiro, o que é gosto, sem perceber o que é imagem e o que é ilusão,
me confundo na percepção dos seus atos.
Não lembro o que é memória, não vejo nada do real. Mas entendo meus sentidos como uma coisa só, num tempo só e num momento sem tempo.

Enquanto isso,
Sinto o gosto do seu toque sem nem mesmo aguçar meu olfato
Vejo seu cheiro passando, voraz num ruído rítmico
Sinto o olhar da sua voz acariciando meu palato
Percebo o toque do seu gosto se abrindo como uma figura nítida
E nesse ritmo dos sentidos, que se encontram numa dança,
Ouço sua imagem no tato da minha lembrança

Sem saber o que é cheiro e o que é gosto, sem diferenciar um toque de um vento, sem entender o real ou o ilusório, sem perceber o meu tempo, o seu tempo e o não tempo.
Sabendo só que não sei você. Sei (só) sua saudade.